quarta-feira, 15 de julho de 2009

Diário de um Vírus I

Sábado, 02 de novembro de 1968

É pouco, é muito pouco. Ser a forma de vida mais simples na mais complexa. Outro corpo para me reproduzir. Minha única condição de vida, que não se cura. A vida de fusão: o que é vivo vai para. O estremecimento gigantesco veido do ventre dela neste momento em que nos fundimos, a hora em que fazemos o grande perigo de estarmos íntimos e sinto seus núcleos dispersos. Os nervos a descoberto, viciados em intendidade. Existo nesse corpo sem pedir licença. Ela sente a própria dor no instante em que escrevemos, a hora do maior desamparo. O peito estreito. Oque é vivo, por ser vivo, se contrai. E então eu soube: a vida nascendo dói. Sem coração, carrego a angina pectoris da alma. Não posso ser apenas eu.

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